DUPLA CARREIRA ESPORTIVA

Hugo Parisi expõe dificuldades para conciliar treinos e estudos. Palestra avalia esportistas contemplados por bolsas

Júlio Minasi - DEL/DAC


As incompreensões marcaram a vida escolar e acadêmica do atleta de saltos ornamentais Hugo Parisi. Multicampeão na América do Sul e representante do Brasil em quatro olímpiadas, ele teve de mudar de escola e negociar com muitos professores para evitar reprovações. Os desafios enfrentados pelo saltador foram compartilhados, na tarde desta quinta-feira (24), durante a penúltima apresentação do I Seminário Internacional sobre Dupla Carreia Esportiva, realizado na Faculdade de Educação Física (FEF).


Nascido em Taguatinga e com a maior parte de seus treinamentos realizados no Distrito Federal, Hugo diz que “após os 14 anos de idade começa ficar puxado conciliar o treinamento e os estudos”. Ele, que iniciou a carreira aos sete e completa 34 anos em agosto, afirma que é comum o desconhecimento das diferenças entre as rotinas do alto rendimento e as do esporte de fim de semana. “A gente falta [aula] porque está se dedicando a algo que acredita”, justifica.

O atleta conta que precisou mudar de escola em passagem na adolescência pelo Rio de Janeiro, quando foi treinar no Vasco da Gama. As aulas eram em tempo integral em alguns dias da semana e ele não conseguia acompanhar. Ainda na capital fluminense, ele ingressou nas faculdades de fisioterapia e de propaganda e marketing. Desistiu da primeira graduação na primeira metade do curso e completou a segunda em Brasília. “Devido aos treinos, pedia para fazer sozinho os trabalhos que eram em grupo”, conta.

Hugo Parisi mencionou o contraste entre a realidade esportiva brasileira e a de países como os Estados Unidos. “É totalmente diferente. O esporte lá é uma ferramenta para se buscar bolsa nas universidades”, explica. Apesar dos obstáculos enfrentados na terra natal, ele conta que recusou convites para treinar fora e que as dificuldades não interferiam em sua determinação nos treinos.

Já com olho no pós-carreira, o atleta concluiu curso na área de gestão esportiva e passou a parafrasear declaração atribuída ao nadador campeão olímpico César Cielo. “Cansei de adequar minha vida aos treinos. Agora vou adequar os treinos à vida”.

BOLSAS – O encerramento do seminário abordou ainda o perfil de assistidos pelo Bolsa Atleta do Distrito Federal. Os estudantes de mestrado da FEF Iuri Scremin e Fernando Martins apresentaram análises estatísticas e informações históricas do benefício, regulamento no início da década passada. O objetivo geral da pesquisa é “caracterizar o contexto social, esportivo e educacional dos indivíduos beneficiados entre 2014 e 2015”.

A avaliação levou em considerou amostra de 70 atletas e constatou que 97% deles tentaram conciliar a dupla carreira. Apesar dos recorrentes abandonos da trajetória esportiva observados na amostra, o trabalho sinaliza que “o esporte não é barreira para a progressão educacional em alto nível”. Os pesquisadores informam que o levantamento tem caráter exploratório e terá continuidade com abordagem qualitativa decorrente de entrevistas.      

OUTRAS DISCUSSÕES – A última manhã do evento contou com a apresentação do professor português Antonio Figueiredo. Vinculado à Universidade de Coimbra, ele trouxe informações sobre a dupla jornada na perspectiva europeia. O seminário, iniciado na quarta-feira (23), trouxe ao todo oito palestras, seguidas de debates.        


O I Seminário Internacional sobre Dupla Carreira Esportiva teve cerca de cem inscritos e foi organizado pelo recém-estabelecido Grupo de Pesquisa sobre Dupla Carreira Esportiva (DuCa/FEF) e recebeu financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). O evento teve o apoio do Conselho de Regional de Educação Física do DF e dos laboratórios de Pesquisa em Educação e Corpo (Labec/UFRJ) e de Pesquisas sobre Gestão do Esporte (Gesporte/UnB).