COMUNIDADE E DIVERSIDADE

Ação coordenada por técnicos da Universidade oferece aulas de defesa pessoal para minorias vulneráveis. Turmas se reúnem a partir de agosto no Darcy Ribeiro e no campus de Ceilândia  

Foto: Freepik com edição de João Paulo de Alencar


Os números alarmam: 4936 mulheres foram assassinadas em 2017 (13 por dia) no Brasil, o maior número em dez anos. Entre as vítimas negras, esse tipo de crime cresceu 29,9% no período. Os dados do Atlas da Violência 2019 apontam ainda a escalada da violência contra lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais. O total de denúncias de homicídios dessas pessoas saltou 127 % em 2017 e chegou a 193. Em busca da redução da violência, ação da Universidade de Brasília passa a oferecer aulas de defesa pessoal específica para grupos vulneráveis a partir de 20 de agosto. A participação é gratuita e aberta à comunidade externa.


O campus Darcy Ribeiro e a Faculdade UnB Ceilândia (FCE) vão receber as primeiras turmas. Cada uma das unidades oferta 40 vagas, com 15 delas destinadas a participantes da comunidade externa, mas todas as vagas são destinadas exclusivamente às mulheres, negros(as) e LGBTI. As aulas serão ministradas às terças e quintas, das 12h30 às 13h30, no Plano Piloto, e às quartas e sextas, das 19h30 às 21h, em Ceilândia.

 

ATENÇÃO: Vagas para o turno vespertino do Darcy Ribeiro já estão preenchidas. Nova turma oferece vagas das 19h30 às 20h30. Indígenas também podem se inscrever. Saiba mais. Informação adicionada em 25 de julho. 


Inscreva-se aqui.

 

Os faixas pretas Ricardo "Marreta" (E) e Max Müller conduzem os trabalhos de defesa pessoal nos campi. Foto: Hugo Costa - DEAC/DAC


“Vamos ensinar técnicas que podem imobilizar ou afastar eventuais agressores”, afirma o técnico-administrativo Ricardo Monteiro, mais conhecido como “Marreta”, um dos responsáveis pela ação. Faixa preta em jiu-jitsu, ele explica que as orientações serão realizadas com os cuidados necessários para o público-alvo, sem qualquer brecha para discriminação. “As aulas serão voltadas para a comunidade LGBTI+, mulheres e negros. Queremos que as pessoas se sintam acolhidas e à vontade”, diz.

 

Marreta passou a dar mais atenção à defesa das minorias após relato de amigo da filha. Foto: Hugo Costa - DEAC/DAC

 

Marreta escreveu o plano de aulas e vai ministrar as atividades na FCE, onde já lidera treinos de arte marcial. Ele informa que a iniciativa dá continuidade ao trabalho da também faixa preta Yvone Magalhães Duarte, que ensinava defesa pessoal na UnB antes de se mudar este ano para o Chile. “Nossa expectativa é que todos possam circular de cabeça erguida e sem medo na UnB e na cidade”, afirma o técnico, que passou a dar mais atenção às minorias após relato de violência sofrida por um amigo da filha.          


As aulas de defesa pessoal no Darcy Ribeiro ficam a cargo do também técnico-administrativo Max Müller. Apaixonado por artes marciais, ele é faixa preta em Kudo, arte mista japonesa, e em Arnis Kali Maharlika, arte filipina que utiliza armas brancas. O lutador é ainda faixa marrom em Wado-Ryu, uma das variações do karatê. “A aula busca garantir a defesa da vida, que é legítima e um direito constitucional”, avalia.  “Esse serviço é importante por contemplar grupos que estão mais expostos”, diz.

 

 

Max encara a defesa pessoal como um direito. Foto: Hugo Costa - DEL/DAC

Além do aprendizado de técnicas de defesa, Max enumera outra vantagem inerente às aulas: o interesse pelo esporte. “Os benefícios das artes marciais são bem amplos. Incluem o trabalho corporal, a resistência e o aumento da flexibilidade”, analisa ele, que, assim como Marreta, está lotado na Diretoria de Esporte e Atividades Comunitárias (DEAC/DAC).    


REQUISITOS – A participação nas atividades não requer nenhuma habilidade prévia ou condicionamento físico acurado. Também não são exigidos kimonos ou materiais específicos. “Recomendamos apenas que as pessoas venham com roupas confortáveis e com disposição para aprender”, afirma Marreta.


DIÁLOGO E INSTITUCIONALIZAÇÃO – A diretora de Diversidade (DIV/DAC), Susana Xavier, é entusiasta da iniciativa. “Esse trabalho tem grande relevância nos aspectos de segurança de toda a comunidade. Deixa as pessoas mais seguras e preparadas”, afirma ela, que acompanha no cotidiano o relato de vítimas de violências e crimes de ódio nos campi. “Infelizmente, não estamos imunes à violência que existe na cidade”.  


As aulas serão acompanhadas por pelo menos uma roda de conversa mensal ofertada no escopo do projeto de extensão Escuta Diversa, idealizado pela professora do Instituto de Psicologia (IP) Tatiana Lionço. “A defesa pessoal não resolve o problema [da agressão às minorias], mas é uma forma para provocar a comunidade, abrir espaços de convivência e criar vínculos”, avalia.  


Coordenadora do Núcleo de Estudos da Diversidade Sexual e de Gênero no Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam), Lionço diz que os instrutores precisam ter a preocupação de lidar com um público abrangente. “Não pode haver qualquer espaço para misoginia, machismo ou LGBTfobia”, afirma.


Segundo a professora, que acolhe com frequência universitários acometidos por agressões, as aulas de defesa pessoal devem ser incorporadas formalmente ao Escuta Adversa. “Precisamos trabalhar coletivamente, de forma institucional. Sozinhas, as pessoas são vítimas”, diz.


SERVIÇO
Aula de defesa pessoal na UnB
Público-alvo: LGBTI+, mulheres e pessoas negras.
Instrutores: Max Müller e Ricardo Monteiro
Valor: gratuito
Inscrições: formulário online.
Locais: Faculdade UnB Ceilândia e Núcleo de Dança e Vivência (SG-10) do Campus Universitário Darcy Ribeiro
Dias e horários: FCE – Quarta e sextas: das 19h30 às 21h
                       Darcy Ribeiro – Terças e quintas: das 12h30 às 13h30
Realização: DEAC/DAC, DIV/DAC e Projeto de Extensão Escuta Diversa