ESPORTE, LAZER E SAÚDE

Artigos fazem resgate histórico de grandes invenções humanas e apontam para a necessidade de aguçar a criatividade. Inovações no esporte também estão no radar

Texto: Cristiano Hoppe Navarro / Arte: João Paulo Alencar / Edição: Hugo Costa


Interagimos, convivemos e existimos porque somos criativos. As invenções de nossos ancestrais nos trouxeram até aqui. São responsáveis por esse texto chegar assim, na tela de seu celular ou computador, por meio de uma rede que conecta o mundo inteiro. O conhecimento adicionado a cada invenção, em regra, altera nossas rotinas e abre caminho para a busca por mais descobertas.


Com a intenção de explorar essa característica humana, a Série Esporte, Lazer e Saúde vai dedicar os próximos quatro textos ao universo da criatividade. O técnico desportivo da Diretoria de Esporte e Atividades Comunitárias (DEAC/DAC) Cristiano Navarro é o responsável pelo material, que vai da abordagem de inovações históricas ao convite a ser criativo na quarentena, passando pelo entendimento da criatividade e da manifestação dela no esporte.


O primeiro texto traz uma breve história da criatividade, da idade da pedra lascada ao século 21. Vamos embarcar nessa viagem?

 

Eureka! Dez momentos na história da criatividade

 

Pintura rupestre em Lascaux (França): criatividade pré-histórica. Imagem: Unesco

1. Eureka! A nossa maior invenção foi a invenção da própria invenção. Os humanos pré-históricos só se comunicavam sobre experiências compartilhadas que existiam ao seu redor, o que tornava impossível falar do que estava distante no tempo e no espaço. Até que, certo dia, um deles combinou sons ou gestos (para coisas então longínquas como “mamute” e “colina”) fazendo um convite à imaginação do outro, e criando a linguagem.

 

2. Um passo seguinte, primeiro por acidente e depois de propósito, ocorreu quando os Homo sapiens começaram a conversar consigo mesmos na privacidade de suas mentes, num fluxo de exploração de ideias e pensamentos que chamamos de consciência – como alinhou o filósofo da mente Keith Frankish.

 

3. Nascia, com esses dois “truques”, o pensamento hipotético, ou abstrato, dedicado ao que poderia, deveria ou mesmo não poderia acontecer (dinossauros e divindades, para citar dois exemplos pressupostos). Essas visões de futuro foram o big bang da criatividade. Fogo, a roda, agricultura, cidades, a escrita, o papel e a prensa, leis, nações e o dinheiro, eletricidade, esportes, cinema, foguetes, a internet: o resto é história.

 

Ele, eu, nós

 

Foguete da Apollo 11 em 1969: a criatividade da corrida espacial nos levou para fora do planeta. Foto: Nasa

4. Na Antiguidade, a criatividade era considerada um dom divino. A palavra hoje usada para referir-se a pessoas com grandes realizações criativas (gênio), surgiu para descrever seres sobrenaturais (como o “gênio da lâmpada”). Vlad Glăveanu, idealizador da psicologia cultural da criatividade, observou três modos de compreensão, identificados com pronomes pessoais. No princípio, predominava o He (ele): criar era para poucos, “eleitos” pelos deuses.



5. Depois, veio o I (eu), mais democrático: a criatividade estava ao alcance de todos, mas o ambiente não importava. Afinal, o We (nós) valorizou o meio social como o que permitia a criatividade, um fenômeno colaborativo visto cada vez mais claramente em times de pesquisa e desenvolvimento, bandas, startups, batalhões, parlamentos, redações, restaurantes, sets de filmagem, departamentos de publicidade e equipes esportivas, entre outros, mas que também está nos escritores, pintores e demais criadores individuais, uma vez que estão mergulhados no intercâmbio com uma cultura particular.

 

O século da criatividade

 

Set de filmagem: o produto criativo depende da sintonia de grande número de colaboradores. Foto: Jason Ilagan

6. As navegações, novos continentes, o menor poder das religiões e a revolução científica e industrial, a partir do século 15, aceleraram o processo de abandono de um mundo estático. No século 21, o século da criatividade, a única constante é a mudança, e ela acontece num ritmo exponencial.

 

7. Unindo o mundo físico, digital e biológico, puxam a fila tecnologias disruptivas como a inteligência artificial, aprendizado de máquina, internet das coisas, mineração de dados, robótica, realidade virtual e aumentada, veículos autônomos, impressoras em três dimensões, biotecnologia, nanotecnologia, a rede 5G e o blockchain (usado na codificação do dinheiro).


8. Para se adaptar, criatividade é a palavra de ordem. E estará cada vez mais em alta a economia criativa, inclusive esportes. Uma pesquisa da UnB estimou que mais da metade dos empregos formais no Brasil (30 milhões de vagas) serão substituídos por robôs e softwares até 2026. É o “desemprego tecnológico”. Para alguns, será a chegada da “abundância universal”.

 

Inteligência artificial e seres humanos: parceria, substituição ou fusão? Foto: Google Images

9. Em “Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã”, Yuval Noah Harari acredita que neste século, com auxílio da tecnologia, os humanos – ou seus sucessores – buscarão a felicidade, imortalidade e divindade (poder). Nos aguarde uma distopia ou uma utopia, nunca foi tão necessária a criatividade: tanto para ser competitivo no mercado de trabalho, quanto para mudar o mundo com inovações, ou para realizar plenamente todo o seu potencial como ser humano.

 

10. Para o psicólogo cognitivo Howard Gardner, são cinco as mentes essenciais para o futuro. A mente disciplinada lida com o domínio de uma forma de pensar específica, e a sintética com o entrelaçamento de fontes diversas em um todo coerente. As mentes respeitosa e ética tratam da relação com o outro. A quinta mente é a criadora. Vamos saber mais sobre ela no próximo artigo. Uma boa notícia: é possível desenvolvê-la. Eureka!

 

Vem por aí:


• Segunda que vem (27), a intenção é compreender o que é a criatividade e como se manifesta.
• Em 3 de agosto, vamos conhecer mais da criatividade no esporte.
• Na semana seguinte, o artigo final vai indicar como se pode desenvolver a criatividade, sem precisar sair de casa, em tempos de quarentena.

 

Criativo, Cristiano Hoppe Navarro é idealizador do futmanobol, esporte que mescla modalidades como futebol, basquete e vôlei. O autor é graduado em educação física e jornalismo e mestrando na Faculdade de Educação (FE).