COMUNIDADE

Idealizadora de curso de defesa pessoal na UnB elogia continuidade de projeto e quer levá-lo a outras instituições

Arquivo pessoal


Yvone Magalhães Duarte coleciona feitos esportivos e tem uma carreira marcada pelo pioneirismo. Tricampeã brasileira de jiu-jitsu, ela foi uma das primeiras mulheres a subir nos tatames da modalidade. A experiência, aliada ao vívido comprometimento social, levou a atleta a estar na vanguarda de outra empreitada: a defesa pessoal com foco em minorias vulneráveis. Ela iniciou projeto na área na Universidade de Brasília antes de se mudar para o Chile em 2018. Este mês, visitou o campus de Ceilândia e demonstrou satisfação pela continuidade dos trabalhos.

 

“Foi muito bom estar lá [na Faculdade UnB Ceilândia]”, diz Yvone, primeira mulher faixa preta (hoje é 6° grau) em jiu-jitsu brasileiro. “Por um lado, é gratificante ver a continuidade do projeto, por outro, é preocupante, pois os números de feminicídio, transfobia e homofobia aumentaram muito no Brasil, sobretudo no Distrito Federal”, avalia.

 

Turma de defesa pessoal na UnB Ceilândia. Foto: arquivo pessoal

A lutadora ressalta que o trabalho iniciado em 2016 foi idealizado em parceria com a professora do Instituto de Psicologia Tatiana Lionço, autora do projeto de extensão Escuta Diversa. “Meu objetivo nesse projeto é tornar o jiu-jitsu um aliado das mulheres e dos segmentos vulneráveis na perspectiva de combate às violências sejam simbólicas, emocionais ou físicas e melhorar a autoestima dos praticantes”, afirma.

 

Na visita a Ceilândia, Yvone mostrou posições e movimentos para combater abusos e até possíveis tentativas de estupro. Acompanhada de Tatiana, ela também participou de uma roda de conversas com participantes e ouviu relatos sobre casos de violência. “É melhor aprender e não usar do que precisar e não saber”, avalia em relação ao aprendizado de técnicas de defesa.

Yvone foi a primeira mulher a conquistar a faixa preta de jiu-jitsu no Brasil. Foto: arquivo pessoal

 

Nascida em Roraima, Yvone analisa que a relação dela com os tatames “traz a resistência da ancestralidade Macuxi e Wapichana” e também “técnicas e ensinamentos que não empregam o uso da violência”. “Pelo contrário, o uso do  jiu-jitsu em defesa pessoal é para paralisar o ataque sem trocar sua posição. Não se pode passar de agredido a agressor”, diz.


As turmas de defesa pessoal na UnB reúnem dezenas de participantes também no campus Darcy Ribeiro. Os servidores e mestres em artes marciais Ricardo Monteiro, o Marreta, e Max Müller são os responsáveis pelas ações.  


EXPANSÃO – O projeto de defesa pessoal teve adesão da Universidade Federal de Roraima, após conversas de Yvone com gestores e professores locais e a realização de aula pública. Segundo ela, há diálogos em andamento para levar o projeto de defesa pessoal para as universidades federais da Bahia e do Rio de Janeiro. Conversas com autoridades chilenas também foram estabelecidas para iniciar atividades semelhantes no país sul-americano.  


“Fico muito otimista em levar esse projeto para outras universidades. Temos contribuições a dar e há espaço e necessidade de se implantar ações como essas”, avalia.  Ela enfatiza, entretanto, que as aulas não devem substituir políticas públicas de enfrentamento a questões como a homofobia e a violência contra mulheres. “A melhor forma de resistência a violência não é solitária, é coletiva. Precisamos da defesa pessoal como instrumento de libertação de opressões preconceitos, abusos e violências”, conclui.